sexta-feira, 5 de novembro de 2010



POEMAS AO VENTO
 
Vento que passas  
Nos pinheirais  
Quantas desgraças  
Lembram teus ais.  
Quanta tristeza,  
Sem o perdão  
De chorar pesa 
 
No coração. 
E ó vento vago  
Das solidões  
Traze um afago  
Aos corações. 
À dor que ignoras  
Presta os teus ais,  
Vento que choras  
Nos pinheirais.
 
Sopra o vento, sopra o vento, 
Sopra alto o vento lá fora; 
Mas também meu pensamento 
Tem um vento que o devora. 
Há uma íntima intenção 
Que tumultua em meu ser 
E faz do meu coração 
O que um vento quer varrer;
Não sei se há ramos deitados 
Abaixo no temporal, 
Se pés do chão levantados 
Num sopro onde tudo é igual.
 
Dos ramos que ali caíram 
Sei só que há mágoas e dores 
Destinadas a não ser 
Mais que um desfolhar de flores.
 
Fernando Pessoa

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